quarta-feira, 15 de abril de 2015

Amuleto

Julia F. do Pateo

Essa estranha
elevação de sentir
que os pelos vibram
e os lábios enlouquecem
me faz vontade
de falar frente ao mar
como é imenso
o toque da carne
o som a beira do ouvido.
as cores que saltam
nos mistérios das palavras.
Mas o mar
é ausente, infinito
e jamais entenderia
sobre o caminho
secreto do corpo
ou
sobre a força
do afeto de peles.

Então eu me calo

E nasço cada dia
no limite da brasa
do copo cheio d’água
tentando encontrar
todos os sentidos
de um labirinto.

Mergulho como peixe
no rio dos meus segredos
escondo as costas
em seus dedos
guardo o rosto
em seus braços,
entre suas direções.

E no instante
que te vejo o sorriso
eu cresço
como a árvore
como o fogo que consome
Te sentir
a presença do gesto
e voz
me incendeia
os tecidos e cabelos

Sou o que sinto
navalha úmida que
percorre a esfera
o oco do corpo.
Não diga o fim da noite
Tudo elétrico e vivo
vermelho.
Aqui me aqueço.
Aqui sinto um amuleto.