domingo, 29 de julho de 2012

Tão ontem que menos amanhã

(E se agora tivesse
o encanto de antes
--ontem
anteontem--
sabe quem
talvez,
amanhã pudesse ser hoje)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Caixinha de jóias


Fossem ainda
pelas bases do sobrado
os brincos de ouro e
as brincadeiras de casal
com nós que dão
novelos largos
em linhas mescladas
entrelaçando
na forma
das histórias de novela

Havia de ser,
mas não era.

Eram extintos
espaços vazios
os campos Elíseos
do peito,
juntados
não mais por
corpos ou copos
na mesa do café
ou pelos beijos
da ponta dos pés
seguindo ao fino
fio de cabelo.

Se ainda fosse noite
era capaz de se gostar,
mesmo que pouco.

Mas lembrou nas palavras
de avó, com
as lagrimas escorridas
caindo no rosto
por quinas
cílios e ciscos:
(enquanto ele
falava as folhas mortas)

Não há mal que nunca se acabe
nem bem que dure para sempre

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Amar amar amar

Quando que ouvi
no ar, meio solto:
"Amor é coisa desvairada
só sente quem louco"
discordei

e nem dei corda

Porque sei bem
que vivo, escrevo
grafo
e grifo
nos entrelaços
das estrelas
essa poesia
quase nunca rotineira

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Equação

a Eric Tada de Souza

Fosse eu
individuo matemático
faria como você
no raio de meus passos:
os calculos mais exatos
e me inspiraria
em grandes mestres dessa arte
(Pitágoras, Bernoulli
Laplace, Baskara e Descartes)

Traçaria em meu caminho
equações e ângulos
vértices, seriam tantos
 os traços mais diveros

Mas agora
sabe-se lá quem,
cada qual em seu quadrante
nas bissetrzes e
hi
-po
 - te
  - nu
   - sas
um dia eu digo
(em entrelinhas de poesia)
que por demais te admiro.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

carrinho de feira

Que gostosas se fazem
as letras
no desenrolar
das ondas
nas cantigas de roda
nos sonetos e prosas

Belas de desfilar
com-passos
tão pouco esguios
e avivar com flores
novas
o antes depois de visto

Mas que traz a tal
gramatica? Estampada nos
vestígios dos
tecidos daquele vestido,
No cheiro de feijão
e no beijo de inicio
se não
a poeira dos tempos
(ou a ternura dos laços
versos e lenços)

E por bem de se saber
--agora antes que amanhã--
que a poesia é
das frutas
não a batida
mas sim a
mais viva

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Menina de quebra

Cor de mar
estrela cadente
amarelinha,
molenga de amor
almanaque
mais que verdade
par de meia
(furada)

Metonímia
tanto por pedaço
de canto de quebra
quebra-cabeça
ou vaso quebrado

chuvisco no sol
arco-íris
folha seca
cisco no olho
risco, rascunho
rasura de texto.
Vestido amassado.
Beiço rosado
fino de pétala
por menores
e petecas

E se fosse mais
ainda sobrava tanto

terça-feira, 3 de julho de 2012

Engenharias


*a João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

Pergunto-me João Cabral até que ponto
se nega de tal legitimidade
poesia não ser mais que estudo
e talento de tão menor a falsidade

Até onde se constrói
o sim sendo não
e poeta menos mestre
já que verdadeiro artesão

Que palavra seja matéria
de possível inteira obra
fio folha e navalha
entrelinhas toantes
arames e emaranhadas

Eis que novo te pergunto:
pode-se lapidar o que
na pedra surge lapidado?
formar diamante do grafite
ainda que o carbono ralo?

Pois que espero a mim
de gume e ponta de faca
completo acreditar contigo.
Sendo poesia técnica (e demasiado treino)
sabe quem um dia
total aprendo o ofício