terça-feira, 5 de novembro de 2013

O refletido

Quando eu sentir a garganta
fermentando pela força do choro
o suor de cada sonho
escorrendo entre as veias
talvez eu diga
numa voz vermelha e inchada:
Agora já não sei mais sobre
essa imagem de vidro
céu, mar, pedra, lâmina.
E então não terei medo da morte
ou dessa luz do mundo
que cada um tem escondida no ventre.
Apertarei meu peito com as unhas
e como urubus que bicam
fincarei em mim a dúvida.
Serei um sopro passageiro
entre o eterno e o nada
um ponto perdido
no mar das histórias
e dos desertos de sal
Eu, envelhecido pelo espelho
apalparei minha roupa e os cabelos
serão despenteados
pelos próprios dedos negros
forçados em sua natureza dura.
E se gritar, se caminhar pelo quarto branco
talvez esqueça os nomes dos amigos
o gosto da comida
e cheiro podre que nunca senti,
mas jamais perderei a imagem
daquele pedaço de mim,
guardado atrás do misterioso espelho
vereda entre o ser e si mesmo.
No dia que eu perceber-me cego
ainda que com os olhos bem abertos
e a boca salivando lucidez
Quebrarei o reflexo de mim
apagarei meu duplo
num distante salto a
imensurável caverna do infinito

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