sábado, 2 de maio de 2015

Herança amarga

Sonho com a paisagem
entre dois mares
o que nela se cria
e recria
um milhão de vezes
em bolhas de sal
e sangue

Ouço risos largos
grandes barulhos de chuva
e o desespero do vento
que bate na pele
para doer o osso

Meu osso é memória
de um grande cilindro de tempo
que não conheci
Meu osso se esconde entre
o quente da carne
e o frio sentimento
entre
o úmido dos orgãos
e o seco da voz
entre
tudo o que se vê
e não vê

É a memória secreta
furada no osso
disfarçada, branca e ausente
calcificada no silêncio
que vibra a carne
o contorno dos olhos
o sentido violento
o descaminho da ação

Se existe aqui
algo que seja indecifrável
culpo a herança amarga
que me acompanha
As bocas que cuspiram a terra

E o que me dói
é o não-nascer
das as cores
dentro do oco
vazio quase morto
que chamam de corpo


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