quinta-feira, 18 de junho de 2015

Volume

Quero enxergar meu gesto
como uma velha ruiva
que exibe a lingua para o mundo
e grita
o escárnio de todos os dias
o absurdo das coisas
o sexo que some entre as pernas.
(Porque o sexo não passa
da irrelevância da carne
fragmento do corpo
uma gota da tinta não posta no quadro).

O movimento que vem
daquilo que não se vê
é o volume dos meus sonhos
a essência que se busca.
Mas pergunto
-e a pergunta consome-
há essência em todas as coisas?
O vaso, o carro, a janta
as manhãs de domingo
o choro do filho.
Há essencia em todas as coisas?

E assim me desespero
entre passos que tocam a terra
e um respirar sem data
para o fim.
Quero o tempo
que vem de dentro e tem fome
quero o tempo
que é do outro
quero o tempo
que já passou
sem que ao menos o tivesse visto.

Um punhado de sal jogado no mar
é a visão que procuro
pois no reflexo do rosto
vejo meu corpo imerso em oceano:
mas, não sou nem mar nem sal

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