domingo, 17 de fevereiro de 2013

Canteiros

Em frente a parede clara
de minha casa
existe um jardim,
nele vejo o passar dos anos
como fossem pétalas amareladas soltando-se
livremente ao infinito,
com suas flores brandas e cores serenas,
dentro da plenitude que existe em cada flor.

Minha mãe rega o jardim
e assim a vejo:
com um óculos rosado escorregando pelo nariz fino
–  óculos que se nega fugir pois bem sabe que em minha mãe
só existe um medo, a cegueira,
a tristeza de sentir-se só,
sem o brilho do jardim reluzindo em seus olhos castanhos 
sua roupa de leves grafismos em algodão,
as costas curvando-se com alegria para
aproximar-se do aroma do jardim
e suas mãos livres, macias (que seguram o regador,
mas deixam com que toda sua vitalidade
escorra junto com a água que dá vida ao jardim).

Vejo o sol nascer todos os dias
em um céu aquarela, reluzente feito lábios de amantes.
Abaixo desse céu e dos pássaros que nele voam
vejo minha mãe regando o canteiro.
Por trinares de duvida
percebo que as folhas caem
e minha mãe cria rugas
Aos poucos enxergo que ela se torna flor
Como se tornou minha avó
sua mãe e demais.

A partir de hoje cumpro meu dever:
rego o jardim

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