sábado, 15 de fevereiro de 2014

Travessia

"talvez porque nunca tivesse olhado, a não ser, um sonho" - Jorge Luis Borges

Não me significa nada
o caminho percorrido pelo leito do rio
ou o asfalta das estradas.
Tudo é como a pedra estancada no chão
intacta
disposta a passagem do vento,
a histeria dos cidadãos

Já não penso mais no individuo perdido
na cidade ou no mar.
Penso no desejo guardado pelos braços
a raiz das cores da pele
a textura do espirito:

Mas de que interessam os caminhos se existe um labirinto na nossa rota?
A história, a língua, a polifonia e a matemática dos gritos desesperados, para que servem?
O que fazer com as noites de lua branca e também com as primaveras?
Se não nascemos nas estrelas, por que querer voar?

Sem reflexo e sombra
procuro algo perdido dos mapas, das esferas, dos livros
e da secreção dos apaixonados.
algum alimento que nutra minha carne
e também minha bile
Uma busca ao imaterial, o eterno mar de alguns
(mas se não posso ultrapassar os limites da carne, então por que alimenta-la?
Por que querer adubar uma planta seca?)

Quero entrar para a história do mundo
e em seu portão escrever meu nome
honrar cada lágrima escondida do medo.
Um mausoléu resguardado de ternura
os metros de horas devorados por uma fumaça negra
que as ondas do passado insistem afogar

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