quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Um sonho

Meu sonho é um homem morto
um senhor de barba
um fraco dos ossos
que caminha a esmo
procurando em estradas vazias
os infinitos caminhos sem fim.

Da sua boca aberta de homem
que é como a boca de um rinoceronte
escorre a solidão das horas
a fecundidade enrijecida
que jogou sua cria
no mar de outros.


A imagem do que sonhei
é covardia.
Um corpo que grita entre a boca
e a perna.
Tudo ali é rubro
tudo ali é mar
e esse mar é rubro
porque o sangue do meu sonho
é um casamento
que vasa da pele
e tingue o cabelo
com dor e sal

Sonhei um senhor que canta o testamento
a vida como palco vazio
e por aqui já não correm cavalos:
É Deus invocado no sertão
vermelho porque nada.
Não há carne que esquente
não há cor que derreta
não há ferro que fure

Um punhado de areia
guardado entre as mãos

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