Escrevo um poema
sobre a morte e a América
sobre a ditadura das palavras
e a repressão da idade
(afinal nunca se julga quem
desconhece a idade dos vinte)
Faço um poema
porque não posso ser mãe
e meu ventre é de vento
como o voo das gaivotas
e a vida das putas
Faço um poema
e sei que uma casa abre a janela
para ver cair as estrelas do céu
e a missa proferida pelo sol.
Conto sobre a casa e o sol no meu poema
Faço, como bem se sabe,
de sexo e sêmen
as dores do meu poema
porque a dor inspira
e traz, tal ondas do mar
tudo que é amargo
e que seca o choro
Para o continente a história
ao meu poema o desejo
de ter tatuado na pele
a certeza de que o tempo traz a cegueira
como as mentiras vindas nas moedas
Moedas e medos
trazidos nos bicos dos seios,
escondidos nas folhas dos livros
na cara e cabelo dos filhos
Escrevo, afinal,
pois são de suor as lagrimas do mar
e de sonhos o suor que escorre
pela ternura roubada
entre as pernas
e o choro turvo
dos olhos pardos da América
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