domingo, 6 de janeiro de 2013

folhas virgens de um livro amarelado

Porque agora você olha pela janela do quarto
e vê no jardim abaixo da sua sacada
que algumas flores murcham enquanto outras
desabrocham por pequenos botões sisudos.
Te digo:
da vida lembremos os sentimentos
que são como flores amarelas e saurás livres,
como as rosas novas desbrochando em folha ainda virgens
dos livros de Guimarães, ou do jardim de vozes que fez Violeta Parra.

Lembremos do amor, pois ele não é efêmero,
não se apaga feito o fogo de Cortázar.
não se esconde entre lençóis da cama e ternuras da noite,
que são como a vida dos idosos:
cheias de mistérios apagados na pureza da pele,
nos longos e diáfanos fios de cabelo
na beira de riachos que
lavam em intempéries eternas de relógio as lembranças.

Dos versos de Drummond façamos nossas memórias
dos quadros de Monet, dos chás tomados a tarde
do bucolismo de Bandeira.
Levemos o amor ao sentido literal, cognitivo e semiótico
que pouco a pouco erguemos, tal ergue-se um poema Cabralino

Nesses tempos de viver, só nos resta o amor
que se nega a esfacelar desalmado
com beijos entre estrelas distantes.
A nós, somente o essencial, que chega aos olhos como a primavera
batendo na janela enquanto você olha ao jardim.

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