sexta-feira, 28 de junho de 2013

As paredes do quarto


As paredes frígidas
erguidas na febre dos duros tijolos
apertam-me a alma com sua voz lambida de cal
enquanto sustentam protuberantes vazios:
O branco dessas paredes, o mudo dessas paredes
o silêncio desse quarto
as quatro paredes brancas que engendram esse quarto

Já não há mais os antigos móveis
em pinho talhado nas lascas do formão
a cama coberta com lençol
as estantes e os livros esculturais
não há mais quadros
não há mais gritos
não há mais sonhos
não há mais quarto
nesse universo

(O branco abarcou tudo e abarcou também a mim
sumiu com as teias de aranha e as formigas
com a luz que batia na janela
com minhas capas de revista
meus enfeites de cabeceira.
Sumiu com o vento que vinha das estrelas
com minhas medalhas infantis.
Sumiu também com os sorrisos que guardava
com minhas roupas e cheiros.
Sumiu com meus amigos, sumiu com meus medos)

Fértil como a solidão interna dos ovos
esse quarto me mantêm preso
encarcerado em sua cópula clara
densa, inodora, luminosa
como um copo de magnésia

De que material
serão feitas as paredes desse quarto?
Serão da cegueira límpida das roupas hospitalares?
Do leite embebido na paciência dos loucos?
Será o branco desse quarto
um grito eterno no desvario do tempo?

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