segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Dúvida

Já não sei mais do que sou feito
se do barro, do espirito ou da carne
(o que me parece mais palpável
e por ser assim, real).

Não sei sobre meus gostos mais internos
minhas percepções sobre as coisas:
a ternura caída das estrelas
quando as olho pelas lentes do óculos,
ou simplesmente a fervura explodida nos poros
a cada nascer de lua.

Por ser real tudo me aflige com força.
Da mesma forma que aflige ao analfabeto as letras
e ao cego a ausência da cor.
Conheço as letras e não sou cego,
embora as vezes me sinta.

Minha alma é movimento virtuoso, cíclico
e sentada em confortável poltrona
afunda-se pelo corpo, ao mesmo tempo
que se dissolve no sangue
com sua fria e meticulosa sensibilidade.

As vezes esqueço meu nome
os encargos que me foram atribuídos
meu endereço, minhas tristezas
e os dias que amei.
Esqueço também da enciclopédica sabedoria sobre a necessidade da morte.

E tenho ainda mais dúvidas.
Porque não lembro como era o cabelo de minha mãe
e nem mesmo a pele nobre de meu irmão.
O que representa a serpente que engole o próprio rabo?
qual a funcionalidade da leitura?
Existirá um contrato entre a lua e o mar?

(– Mas então alguém diga algo que dê sentido
poucas palavras que absorvam esse vazio.
Digam. Digam:
Para que tantos livros enfileirados se nunca os lerei?)

Alguns dias tenho pesadelos em latim
outros premonições em línguas estrangeiras.
Talvez eu ame o futuro
com o mesmo ódio que tenho pelos dias frios.

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