terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pés que pisam a terra

Que não seja essencial
a carne e a matéria
o objetivo nítido
do ser. A palavra
escondida da multidão
de cegos excitados.
Os labirintos do mundo
em que se passam
longas procissões repetitivas.
O fosco dos espelhos
lágrimas quentes de olhos tristes

Pois assim serão salvos os perdidos
no deserto de si
a areia do mundo
os gritos caninos da experiência
moedas espalhadas pelo bolso
o primeiro beijo, o cheiro roxo
do corpo entregue ao eclipse.

Pela sensações dos misteriosos nostálgicos
que buscam o intimo brilho humano
diluído na água e no marasmo.
Os que cantam a memória acrílica,
divina
das flores borbulhadas no lábio
Pelos que vivem qualquer coisa
que não seja uma coisa
Aos que buscam o múltiplo
do sozinho no que é murcho
frouxo, espirito extraído
ao longo dos símbolos encadernados.

Por tudo que se encontre
no grão
na rua
no mar
na lua
na liberdade
que escorre pelas asas

E talvez ninguém precise desses pés
que pisam a terra.
os olhos globulares de pedra.
a frágil mucosa do corpo.
As ondas, os chifres, o ferro
o cabelo, a estima, a desfortuna das regras da carne

2 comentários:

  1. Esse seu poema me lembra "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago. "A palavra escondida da multidão de cegos excitados" me trouxe à cabeça algumas cenas do filme... Gostei do teu modo de escrever. Voltarei aqui + vezes.

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  2. Obrigado pela excelente comparação Jéssica, Saramago será sempre um exemplo a ser seguido.
    Apareça mais vezes, sua presença é muito bem vinda :)

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