sábado, 5 de outubro de 2013

O morto

Nunca desejei que ratos
me roessem a alma.
Imaginava que a realidade
fosse feita de matéria dinâmica
viva, própria,natural.
Os copos de água
não passariam de água
as estrelas seriam somente estrelas
e a música um eterno grito
a espera do encontro em mim.
E devo gritar nesse momento?
Jorrar aos ventos do ser
todo meu medo?

Um urubu cego
entre as flores da galáxia é
a fruta roxa de meu peito.
Raio escuro que tinge a manhã de domingo
atravessa meu olho amarelo.
Canta meu nome
canta, canta
como quem corre pela rua
quatro de outubro
numa noite gelada
ao silêncio da voz fétida.
Sou palpável? Sou vivo?
a imagem projetada pelo rio
é Minha experiência?

Escrevo pela felicidade
que exalam as rosas,
com seu cheiro e cegueira.
Sua nitidez falsa de prazer
nascida na terra podre
que piso com os pés.
Estar sendo o que sou
não significa que o fui
no segundo passado
a leitura do pensamento

Imaterial, colérico e duro
dono de posse nenhuma
alegre como a vaca atolada
na chuva que cai sobre a fazenda.
Perdido na
da Avenida da Glória.
Vazio a transbordar nuvens
estrangeiro comigo
Nome desconhecido de profissão nenhuma.

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