Estávamos
conversando, esses dias, sobre a dependência da criação poética
às experiências pessoais. Decidimos então fazer um desafio:
Helena, mulher branca e feminista, teria que escrever um poema sobre
a causa negra, e Ronaldo, homem negro e anti-racista, faria o mesmo,
mas sobre a opressão por gênero. As trocas de experiência sobre as
opressões que sofremos foram cruciais para que pudéssemos entender
mais e apoiar às causas um do outro e vice-versa. Seguem abaixo os
resultados deste desafio conjunto.
Carlos, é muito
difícil narrar-lhe os fatos.
Não compreendes que o
corpo é uma folha caindo de uma árvore?
Um pássaro extinto
fugindo pela floresta?
Um feixe de luz
derramado na ausência?
Deve-se então, Carlos,
tratá-lo com liberdade
poupá-lo de seus
cuidados malignos
de seu julgamento
saudoso
da fria coberta que é
seu pudor.
Carlos, o corpo que
tenho não merece
os espelhos flácidos
que são seus olhos.
Nosso corpo é a
essência dos frutos
o início secular de
tudo.
E é nosso como é de
um homem seu órgão
e de um negro sua pele
(entenda também que a
pele do negro
não merece qualquer
desrespeito
que lhe esteja na
mente, Carlos).
O corpo é a nossa alma
e nosso sangue
nosso direito de posse
e vontade.
O corpo, Carlos, o
corpo.
Por assim ser faremos
dele o que a vontade mandar.
Carlos, um ferreiro
constrói sua espada
e domina seus
movimentos,
as subidas verticais e
quedas livres.
Nós faremos o mesmo:
o corpo será nossa
espada reluzente
e o ventre nosso ataque
e defesa.
O corpo, o meu corpo, o
nosso corpo, Carlos
já não aceita mais as
regras e valores violentos
que te pertencem,
os cintos de castidade
que são suas palavras
o respeito unilateral
proferido por seu suor.
Carlos, entenda como a
última vez que te falo.
Não haverá mais
resignação sobre sua violência
não haverá mais
passividade sobre seus gestos imbecis.
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O outro poema está neste link: http://temposdemorangos.blogspot.com.br/2013/07/o-canto-de-mariano.html
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O outro poema está neste link: http://temposdemorangos.blogspot.com.br/2013/07/o-canto-de-mariano.html
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