sexta-feira, 26 de julho de 2013

História da tristeza incompleta e do amor

1.
Uma gota não me escorre do rosto
como o leite fugido das coxas
ou a pedra seca, carente de cor
rolando do topo da montanha.
E meu maior desejo era chorar
feito uma criança faminta
que estica os braços gordos
a procura de um peito que a amamente.
Feito um homem que perde sua perna
feito um cão apunhalado, um cão esfaqueado
Feito um homem mascarado
que vê o amado pela janela
e não o tem entre os braços,
enlaçando-o em seu peito fervoroso
quente,
como deveriam ser as lágrimas

Hoje eu sou da maneira
que nunca devia ter sido
sou tudo porque sou incompleto
porque minha tristeza é um copo à espera de água.
Só tenho mãos porque os braços ainda me restam
só tenho olhos porque a esperança
(de lágrimas turvas fugindo a face)
ainda existe.
Meu sonho, minha imagem inalcançável
é essa esperança.

2.
Já não sei mais o que é costas
o que é seio e o que é lábio.
O que são as pegadas na areia
e as marcações feitas na folha do caderno.
Sou o amor e o amor me é
sou você porque minha alma já se desconhece
e não sabe quais os valores que a faziam alma
os sons que a faziam alma
a cobiça que a fazia carne

Sou o meu sexo e o seu sexo
o calor que te vaza da rosa
e me floresce no interior dos pulmões
sou a parte que lhe faltava
a cavidade tapada por seu bojo
Sou o sangue do seu sangue
o mar e as ondas feitas por seu sopro
a luz que fugiu das velas
as palavras proferidas na língua.
Sou o amor, a loucura e o desejo.

2 comentários:

  1. Muito profundo esses dois poemas, me comoverao de uma grande sinceridade...

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