domingo, 22 de setembro de 2013

Tirésias

Fui dois quando apenas um
fui nada, quando nenhum era meu sexo
E fui cem na hora negra
em que me admiravam.

O sexo me era inexistente
porque de completo tinha
as duas faces do prazer.
Era eu o sangues escorrido
entre as pernas
e o órgão crescido
da amargura dos deuses.

E todos me consultavam
a procura de si mesmo
da memória existente nas estrelas
dos cantos perdidos no tempo
do crime cometido pelo filho
contra o pai.

Meu nome proferido ao vento
minha sabedoria à eternidade.
Um homem que é mulher
a experiencia, dissolvendo-se
no corpo.

Mas aos deuses
Só se deve existir uma noite
uma unica luz negra
uma escuridão que recaia sobre o ser.

Então me perguntaram
e puniram pela resposta inexata
por sua inveja mortal
(escondida no manto
dos que não morrem)
E tiraram o bem maior:
A escolha
do próprio corpo
a transição entre os pontos
o recado que une
o masculino e o feminino

E me cegaram, deuses imortais
com a ira dos desesperados
das agulhas que atravessam o tecido.
Arrancaram-me as pupilas
a leitura, o horizonte
os sorrisos
as cores
os feitos que não vi

Eu me tornava então um cego
acampado na rua.
Um homem dormindo
com seus medos
um mar de escuridão
a enxergar o invisível.

Meu nome, minha imagem
minha profecia: Tirésias.
Aquele que foi dois
e apenas um.

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